O pássaro na sala é como a minha vida, que roda. Todos olham, ninguém se importa. Importam-se, mas esquecem. E não faz tanta diferença.
Silêncio, maio e olhares trocados. O amor anda à marcha lenta, pra ir assim diferente de tudo.
ENTER-CHRONOS.
Indiferença dissimulada pelos cabelos amarelos e lindos. Emaranhados que escondem alguns mistérios que ainda preciso descobrir. O gosto do beijo, o toque da pele. Os dedos, aposto que procuram mais a nuca e o cabelo do que os ombros ou as costas. Sem sinestesia!
terça-feira, 30 de outubro de 2012
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Edifício
As paixões antigas: hipócritas
Voltam com apenas uma música.
Hipócritas que um acorde as acorda,
um cheiro as desperta, enquanto a vida segue.
Enquanto qualquer afeto as coloca no túmulo.
Teimam em voltar como fantasmas,
enquanto outro lábio é o sal grosso.
Voltam e querem nosso sangue,
enquanto o raio de luz são outros braços.
São como a procura de um ente querido.
Um ente querido que nunca mais fora visto.
Não se sabe se morto, seqüestrado, fugido.
Não é possível realizar o enterro.
Assim são as paixões antigas...
Não há corpo pra velar.
Não há vela de sétimo dia.
Nem há nada.
Só o tempo... que nos constrói e desconstrói.
Não o tempo ceifador de memórias, mas o tempo engenheiro civil.
O tempo encanador, pintor e batedor de massa.
O que vai e vem com novas paixões antigas.
Voltam com apenas uma música.
Hipócritas que um acorde as acorda,
um cheiro as desperta, enquanto a vida segue.
Enquanto qualquer afeto as coloca no túmulo.
Teimam em voltar como fantasmas,
enquanto outro lábio é o sal grosso.
Voltam e querem nosso sangue,
enquanto o raio de luz são outros braços.
São como a procura de um ente querido.
Um ente querido que nunca mais fora visto.
Não se sabe se morto, seqüestrado, fugido.
Não é possível realizar o enterro.
Assim são as paixões antigas...
Não há corpo pra velar.
Não há vela de sétimo dia.
Nem há nada.
Só o tempo... que nos constrói e desconstrói.
Não o tempo ceifador de memórias, mas o tempo engenheiro civil.
O tempo encanador, pintor e batedor de massa.
O que vai e vem com novas paixões antigas.
Prédio
Olhar voltado para o prédio. Imponente. Pular ou não pular? Pular ou não pular? Até agora não se sabe, mas já estávamos lá dentro. Sem blusa, cotovelos ralados. Com blusa, só cotovelo. Grama alta e entulho estavam por toda a parte. Uma velha escada à espera. Treze andares acima. No primeiro andar, à luz de celular, precariamente se iluminava paredes cinzentas, chão cimentado, o que deveria ser o fosso do elevador. A escada permitia a subida sem passar por dentro dos andares, apenas no entorno. Segundo andar: cinza, cimento, fosso, vazio. Terceiro andar: cinza, cimento, fosso, vazio. Quarto andar: cimento cinza, fosso, vazio. Quinto andar: cinza, cimento, fosso vazio. Sexto andar: fosso cinza, cimento vazio. Sétimo andar: por que continuar subindo? Oitavio andar: cimento fosso vazio cinza. Nono andar: cimento subindo por quê? Décimo andar: já estamos aqui cimento cinza vazio. Décimo primeiro andar: fosso cinza. Décimo segundo andar: merda merda merda merda de pombos, pombos, muito barulho barulho. Volta correndo, sobe de novo. Cuidado aqui. É só uma tábua, não vai cair. Buraquinho da janela: a cidade toda iluminada, de madrugada. Cuidado com a laje, já pensou cair? Eu preferiria que fosse eu, pra não explicar o cadáver e o que fazíamos ali. Para de besteira. Escadinha de ferro à espera. Eu vou primeiro. Depois que um subir o outro sobe. Cuidado pra não cair. A cidade toda aos nossos pés. Ninguém pode ver. Todos passam abaixo, mas ninguém pode ver. Não podem ver porque não olham para cima. Só com a mesma perspectiva. Por que subir até lá? Não há nada. NADA! Pode-se descobrir que não há nada. Uma subida por lugares iguais, em busca de algo que não se sabe, por satisfação, assim como é a vida. A única descoberta: nunca se saberá se o prazer está na luta ou na conquista dos objetivos.
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Amores
Escuta aqui, querida, não sou de ferro
E você: papel, rabisquei, desenhei
Achei que havia um livro, mas era só folha
Projetei um romance e o espaço acabou
Viramos conto de final aberto e rápido
Você era branca e pretejei só de pensar
No que eu havia feito...
E agora, sou obrigado a conviver
Com a história que escrevi
Sem saber calcular espaço e tamanho
Que o amor precisa ser guardado
Volto pra ler e a folha está velha
E você ainda está branca, como foi nosso caso um dia
E já somos cinzas agora, cada qual no seu tom
Cada qual sem o outro e só memória
Que distorce e apaga tudo o que estava
E o que não é.
E você: papel, rabisquei, desenhei
Achei que havia um livro, mas era só folha
Projetei um romance e o espaço acabou
Viramos conto de final aberto e rápido
Você era branca e pretejei só de pensar
No que eu havia feito...
E agora, sou obrigado a conviver
Com a história que escrevi
Sem saber calcular espaço e tamanho
Que o amor precisa ser guardado
Volto pra ler e a folha está velha
E você ainda está branca, como foi nosso caso um dia
E já somos cinzas agora, cada qual no seu tom
Cada qual sem o outro e só memória
Que distorce e apaga tudo o que estava
E o que não é.
Sabores
Suas pretensões eram claras: entrou no banho. O piso gelava sob os pés. Tirou sua blusa mais bonita para isso, lembrou-se de tudo: das brincadeiras no gira-gira, do primeiro beijo, das folhas secas, de dinheiros achados, namoradinhas, amores, de todas as bandas em que tocou e que viu tocar... Do velho piano herdado da avó... Enfim, um período longo. Mais longo do que recomendam os puritanos. Esqueceu-se de todo o resto. As antigas paixões, amizades, os antigos sonhos, todos eram como brasas, quase cinzas. Ainda poderiam queimar, se revirados. Assim foram, e em conjunto com o chuveiro no inverno, ardiam seu corpo. Ardiam no sentido da excitação e da destruição. Passou a mão pelo púbis negro e não se agüentava. Sua temperatura corporal foi elevada de tal modo, que a própria pele começava a derreter. As unhas e cabelos não estavam mais preso ao seu corpo. Dolorosamente, toda a matéria humana passava do estado sólido para o líquido, até escorrer toda pelo ralo, junto com a água, o sabão e a sujeira. Toda uma vida, toda uma felicidade e um sucesso milimetricamente planejados acabavam ali... Afogou-se no esgoto!
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