segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Prédio

Olhar voltado para o prédio. Imponente. Pular ou não pular? Pular ou não pular? Até agora não se sabe, mas já estávamos lá dentro. Sem blusa, cotovelos ralados. Com blusa, só cotovelo. Grama alta e entulho estavam por toda a parte. Uma velha escada à espera. Treze andares acima. No primeiro andar, à luz de celular, precariamente se iluminava paredes cinzentas, chão cimentado, o que deveria ser o fosso do elevador. A escada permitia a subida sem passar por dentro dos andares, apenas no entorno. Segundo andar: cinza, cimento, fosso, vazio. Terceiro andar: cinza, cimento, fosso, vazio. Quarto andar: cimento cinza, fosso, vazio. Quinto andar: cinza, cimento, fosso vazio. Sexto andar: fosso cinza, cimento vazio. Sétimo andar: por que continuar subindo? Oitavio andar: cimento fosso vazio cinza. Nono andar: cimento subindo por quê? Décimo andar: já estamos aqui cimento cinza vazio. Décimo primeiro andar: fosso cinza. Décimo segundo andar: merda merda merda merda de pombos, pombos, muito barulho barulho. Volta correndo, sobe de novo. Cuidado aqui. É só uma tábua, não vai cair. Buraquinho da janela: a cidade toda iluminada, de madrugada. Cuidado com a laje, já pensou cair? Eu preferiria que fosse eu, pra não explicar o cadáver e o que fazíamos ali. Para de besteira. Escadinha de ferro à espera. Eu vou primeiro. Depois que um subir o outro sobe. Cuidado pra não cair. A cidade toda aos nossos pés. Ninguém pode ver. Todos passam abaixo, mas ninguém pode ver. Não podem ver porque não olham para cima. Só com a mesma perspectiva. Por que subir até lá? Não há nada. NADA! Pode-se descobrir que não há nada. Uma subida por lugares iguais, em busca de algo que não se sabe, por satisfação, assim como é a vida. A única descoberta: nunca se saberá se o prazer está na luta ou na conquista dos objetivos.

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